Lançamento do livro “Maria Olívia” resgata história de cajazeirense ilustre do século XIX
No último dia 30 de julho, foi lançado o livro Maria Olívia, obra de Aíla Sampaio e Helder Ferreira de Moura que retrata a trajetória da cajazeirense Maria Olívia.
O evento aconteceu no espaço cultural do Cantinho do Frango, em Fortaleza, reunindo autores, leitores e admiradores da personagem que dá nome ao título. A obra está à venda por R$ 50, e os interessados podem obter mais informações pelo telefone (85) 3224-6112.
Quem foi a mulher que largou internato de freiras em Fortaleza no século XIX para viver um amor
Nascida na cidade de Cajazeiras, sertão da Paraíba em 1867, Maria Olívia foi uma autêntica ovelha negra. Motivos para isso não faltaram. Quinta filha de um político poderoso da época, tinha um comportamento destoante das outras mulheres, a ponto de influenciar várias moças da cidade. Não aceitava o destino que lhe era imposto, e foi ousada em todas as escolhas que fez.
Ainda jovem, por exemplo, decidiu, ela mesma, escolher o homem com quem queria casar. Optou pelo risco sem se preocupar com o preço que pagaria. Era romântica e não aceitava um casamento arranjado. Dizia que ninguém mandava no coração. Resultado: para “moldar” esse espírito independente e transgressor, o pai a colocou em um internato de freiras em Fortaleza quando ela tinha apenas 15 anos. A irmã mais nova, de 11 anos, a acompanhou.
Não houve jeito. Quando se apaixonou, Maria Olívia largou tudo e foi viver um grande amor, abrindo mão da família de origem e tudo o que se esperava dela. Uma insurgente. “Ela reflete todas as mulheres que não aceitam imposições e escolhem ser livres para decidir o próprio destino”, observa Aíla Sampaio, escritora e professora da Universidade de Fortaleza.
Entre ficção e realidade
A personagem-título é, na verdade, tia-avó de Helder Ferreira de Moura, e com ele travou relação apenas afetiva, não física. “Ela nasceu em família tradicional, conservadora e, em tempos monárquicos, empunhou a bandeira da liberdade afetiva. As memórias orais passaram entre décadas, foram somadas a pesquisas em livros da família e acrescentamos um pouco de ficção”, explica o sobrinho-neto ao falar sobre a publicação.
Segundo ele, quase tudo no trabalho é verdade – da história de Maria Olívia aos personagens e ambientes. A ficção entra como complemento para uma narrativa picotada, apoiando-se em tradições e na história sertaneja do período monárquico e da República Velha.
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Maria Olívia retratada pelo artista Totonho Laprovítera como uma mulher que não se mostra por inteiro |
“As mulheres têm a chave do baú. Contam e recontam histórias com um pouco de suspense e glamour. Meu ofício é juntar interior e capital num incessante observar daquilo que muda rapidamente, e sempre pedindo para não atropelarem nosso provincianismo, nossa essência”, diz Helder, responsável pelo enredo e anotações da história para composição do livro. À Aíla, coube a estética, organização e ficcionalização do texto.
Não-linear e polifônico, ele traz narrativas em primeira e terceira pessoa, e abraça parte do presente para fazer um mergulho no passado. Segundo Aíla Sampaio, Hélder já tinha pesquisas sobre a personagem, mas não havia muitas fontes além do que ele já anotara. Mediante ajuda de Frassales – um conterrâneo que mora no Recife e tinha igual interesse em contar a história de Olívia – tudo ficou mais possível.
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Os autores do livro, Helder Ferreira de Moura e Aíla Sampaio - Foto: Diego Gregório |
“O que era conhecido não era suficiente para escrever o romance, por isso a imaginação a partir do contexto – mas sempre preocupada com a verossimilhança. Hélder cresceu ouvindo falar no mistério do destino de Maria Olívia, sua tia-avó, dada como morta em 1884, e me propôs o desafio de escrever um romance contando a história dela. Topei. Passei um ano trabalhando junto a ele pra ‘juntar as pontas soltas’ e preencher as lacunas”.
Resistência feminina
No que toca a Helder, para ele a oralidade pode sofrer alterações, desde que a pesquisa surja com mais propriedade. Contudo, conforme acredita, o que sempre acontece é o fenômeno da complementaridade. “Maria Olivia é autêntica, resistente e, sem sofrer influências externas, levanta a bandeira da liberdade afetiva. Quebra tratados, influencia e muda costumes”.
Não à toa, o processo de feitura do livro consistiu em unir oralidade familiar, pesquisa de época e um pouco de tempero poético-romântico, destacando as lutas que Maria Olívia travou para ser feliz. Não deixa de ser um aperitivo da mescla de cultura colonial, conservadorismo e resistência feminina.
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Imagem ilustrativa de Maria Olívia e o amado: para autores, personagem continua o legado de grandes mulheres que pensavam à frente do tempo - Foto: Shutterstock |
“Do ponto de vista da universalidade, Maria Olivia continua o legado de grandes mulheres que pensavam à frente do tempo, e deixa um recado para outras mulheres empunharem essa bandeira. Ela é universal porque lembra a urgência de as mulheres gozarem de mais direitos e liberdade. Isso sempre foi o grande desejo e necessidade de cada uma: a luta pela igualdade”.
Cultura CZ com Diário do Nordeste
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